quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Os Miseráveis

Aquela velha história : Deus recompensou ter me feito pobre dando bons amigos. Se tivesse me feito rico e sozinho, não teria sido ruim também, mas, as histórias não seriam tão boas: pois bem, um grande amigo, o qual preservarei o nome por questões profissionais, me ligou aflito dizendo que, de fato, era verdade, Victor Hugo era melhor do que Baudelaire. Sua voz tinha notas etílicas, que meus ouvidos reconheceram de outros bares. Não se dá atenção a bêbados, a não ser que tenha ingerido quantidades semelhantes de álcoois naquela mesma noite. E as "Flores do Mal" e o "Spleen de Paris"? Que se foda, Paris. O Hugo escreve teatro, poesia, romance, tudo… O que? N’importe quoi! Me encontra no centro – sentenciei! Saltei do ônibus desligando o telefone. Nem sabia se estávamos na mesma cidade. Naquela altura era difícil achar o centro. Tudo é tão relativo. Após algumas erratas, nos encontramos finalmente e, de litrão em litrão, Charles e Victor, Victor e Charles, engalfinhavam-se na mesa vermelho-Brama do bar. Até hoje, tenho certeza que a literatura francesa ganharia muito se alguém lembrasse daquela discussão na manhã seguinte.

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